seja nós


Retilíneas linhas do teu corpo, corpo o qual pertence ao meu; continuação de uma obra prima, o bem e o mal unidos numa dança que encanta os deuses - bendito seja o teu dom de fazer-me sua. E que vá para outra órbita ao simples toque do teu olhar junto ao meu, ao mero olhar do teu toque em minha pele com tuas mãos tão bruscas e graciosas que passeiam por todo meu corpo fazendo de cada toque terna poesia. - Poesia que é a profundidade de teus olhos verdes, estes mesmos olhos verdes que possuem a confirmação, a resposta, a chave, o alívio momentâneo; todo o amor do mundo, ora perco-me ao navegar em tuas profundezas, vejo a tua loucura de perto ao te despir - despe-me tu e vês também o meu ser, descobre-se tudo o que há - vê o que habita e muito mais - torno-me pertencente à ti e torna-te pertencente à mim, juntos nos tornamos um único ser. Sinônimo de harmonia é quando tu estais em mim e eu em ti, seja o balanço de meus quadris que te seduzem como uma cigana, seja tua entrega e complexidade, seja nós.

corrosão de um miocárdio


A corrosão de meu miocárdio outrora me trouxera aqui, pois bem, cá estou novamente numa aflição incontestável diante de meu nariz. Há um caos cantado que já virou um mantra em mente; sabe-se lá qual o motivo. A todo caso, é como não encostar os pés no chão sabendo-se que, agora, os mesmos estão fincados onde pisam como nunca estiveram antes; vive-se num limbo nostálgico e traiçoeiro que sempre procura formas de trazer-se à tona com velhas histórias re-contadas fazendo-as parecerem novos pesadelos, pesadelos os quais devo lhe informar que não me assustam mais pois não passam de imagens de um passado constante - o passado não me assusta e a constância trata-se de mera consequência de atitudes pueris.
O drama não me convém - nunca conveio. Mas ora pois, querida luce sumira de meu coração! Enche-me de lágrimas os olhos e apouca-se o coração ao vê-la tão espavorida no fundinho de minha alma, como um ser extremamente assustado, apenas demonstrando meros resquícios de vida, completamente incapaz de retomar o espaço de sua morada - permitindo-se ir, sendo cada dia mais pó e menos luce.
Luce.
Sei que achastes-me louca por dar nome, criar um alguém para assumir minha vida, mas veja bem: não culpe esse doce ser, este é apenas um grito desesperado de um alguém que já não detinha mais em mente sanidade para encarar a vida e ainda menos coragem para enfrentá-la, um alguém que não sabia ser si. Ora luce, doce luce. Luce que traz luz, traz vida! Com luce fiz de minha loucura um dom, uma arte; a mais sutil expressão de sentimentos inoportunos de um alguém que não os pode expressar; fiz verso e prosa, fiz conversa de botequim, fiz a filosofia de uma vida e o afagar de um coração.
Sinto-te morrer em mim e, junto a ti, a minha poesia e todo o meu ser enquanto algo de maiores forças toma-me conta, - algo que faz de mim infeliz, todo o peso de uma vida desalinhada nas costas cansadas que outrora levara chibatadas de sentimentos mal-digeridos e agora carrega todo o peso do mundo. Por linhas tortas fez seguir-se à vida desde seu primórdio, talvez seja este o preço à pagar.

Para minha querida luce.